sexta-feira, 31 de março de 2006

os bibliotecários escrevem histórias


Os bibliotecários também escrevem histórias, nos cursos de escrita criativa. E há os que têm muita sorte e podem escrever quando querem.
Conheço uma bibliotecária que escreve short stories deliciosas de saborear, com ovos estrelados e abóboras, que nos aguçam o apetite para ler mais. Oxalá essas histórias nos sejam postas à mesa, nalgum livro de capa comestível.
Vivam as bibliotecárias das bibliotecas vivas

canção de inverno

No curso de escrita criativa, a decorrer na biblioteca, criam-se textos muito diferentes, segundo o Valter Hugo Mãe, todos eles reflectem o que cada um é, por mais distância colocada nas palavras e nas personagens.

"Canção de Inverno

Um homem só. Não permanece inquieto, mas sempre só. As mãos em cima do teclado aguardam as memórias paralelas que lhe criam impressões para este momento.
Canção de Inverno, não se pode esquecer, e as memórias a arrebatá-lo. Sempre escolheu a solidão, nas tardes de qualquer ano, uma espécie de rouxinol do mato. Estudava numa casa alugada que era um lugar ermo, sem som. Detestava os gritos de qualquer parte, os ruídos de um livro a cair do nada, as camas a gemer e o som do fósforo quando reluz.
Pequenos sobressaltos pairam na sua mente mas não se esquece do que está a tocar naquele momento.
No Inverno, foi no Inverno que tudo aconteceu, que o ar gélido do norte lhe arrebatou os sentidos e o deixou abandonado na sua juventude sem nenhuma canção.
As suas mãos espraiam-se ao ritmo do pensar e o homem percebe quanto tempo perdeu de vida sem perceber o mundo, sobretudo a luz que o atormenta e o encerra num manto de finos sentimentos controversos.
O destino da solidão que traçou é sempre sublimado nos momentos em que termina de tocar, em que as suas mãos sossegam e o seu espírito se levanta , e mais uma vez no final de tocar Schumann, altura em que a sua loucura se cruza com a do compositor, que percebe, enfim, que o aplaudem.
Vai com ele o Inverno, tão só e tão pleno de graças."

terça-feira, 28 de março de 2006

uma pequenina luz

Às vezes o sentimento dos que trabalham nas bibliotecas é mesmo este. Obrigada Jorge de Sena por ainda alguma coisa brilhar.

"Uma pequena luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós..."

Jorge de Sena

segunda-feira, 27 de março de 2006

homenagem aos livros pequenos e alguns menos


Gastão Cruz recebeu, na Feira do Livro de Braga, o Grande Prémio de Literatura DST 2005, pelo livro de poesia "Repercussão". Este livro foi lido e comentado na Comunidade de Leitores da minha biblioteca, no ano passado.
Vivam as bibliotecas com livros vivos.

"Livros pequenos onde se concentra
a vida das palavras que é o eco
de vozes vivas povoando as cenas
de cada hora contra o céu batendo
livros que dizem coisas tão
diversas do mundo e as prendem
aos olhos de quem esperava... "

Gastão Cruz
in Repercussão

sexta-feira, 24 de março de 2006

german danz n º1

Dançamos, com muitos meninos, a Dança Alemã nº1 de Mozart, na biblioteca.
Vieram para ouvir falar do menino e senhor da música, que nos legou uma lista infindável de obras magníficas. Também elas figuram nas prateleiras da biblioteca.
Viva a música nas bibliotecas vivas.

terça-feira, 21 de março de 2006

poesia, dia mundial

Poema quase apostólico

Está sereno o poeta
desprende-se-lhe dos ombros e cai
depois em pregas por ele abaixo a manhã
Não pertencem ao dia os gestos que ele tem
não morrerão na noite seus assombrosos passos
Dizem que ele volta a pôr em movimento a roda
de crianças de atitudes desmedidas
que o vento varreu e parque algum queria
E abre os braços para deixar cair na cidade
um ano favorável ao senhor
E põe o rosto do senhor por trás das suas palavras
Elas decerto o hão-de dar a quem as demandar.

Ruy Belo

quinta-feira, 16 de março de 2006

a tenda do Camilo

"A minha tenda são uns vinte volumes, um tinteiro de ferro e um cabo de pena de osso"

Camilo Castelo Branco

padrinho da nossa biblioteca, nascido a 16 de Março 1825

para que nasças muito antes de chegares


Nasceu há 14 anos na grande biblioteca universal. Partilho com ela a vida e os livros.


Para que nasças no mês anterior
Para que nasças muito antes de chegares


Para que amanheças já aberta e recortada
no tempo anterior à tua vinda
para que amanheças
...

Daniel Faria

segunda-feira, 13 de março de 2006

música nas bibliotecas


Ouvir o pianista Krystian Zimerman, ao vivo. Sonata em si bemol menor de Chopin. Tive esse privilégio, uma espécie de prenda de anos, eu e a Mariana, minha filha pianista.
Gostaria que as bibliotecas de leitura pública conseguissem ter as melhores gravações dos bons pianistas. Cá se vai fazendo por isso.

sexta-feira, 10 de março de 2006

parabéns oceano !








Faz anos o Tiago, peixe-carrossel, O António, peixe-melodia, e muitos outros peixes.
Parabéns ao Paulo, peixe-pai, à Lena, peixe-mãe, à Mariana, peixe-flor, ao JJ, peixe-sonhador e ao Nuno, aquário, que nos envolve a todos.
Parabéns a este Oceano que desejo pacífico.

quinta-feira, 9 de março de 2006

dia internacional da mulher

Há uma biblioteca que ainda está viva, cujo bibliotecário oferece um bombom, neste dia, a todas as mulheres que com ele trabalham.
Um doce que nos lembra a presença feminina no mundo, num reino que pretendemos maternal, também nas bibliotecas.
Vivam as bibliotecas vivas.

terça-feira, 7 de março de 2006

nevou, bem perto de casa

serra da cabreira, 28 fevereiro, carnaval
Posted by Picasa
Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e
os lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,
como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e ar
de como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.
Maria do Rosário Pedreira.

a terra do anjo azul

A terra do anjo azul foi falada por muitas crianças, nas bibliotecas escolares, que visitei com o escritor António Mota.
O que é necessário para ser escritor? Que livros lê aos alunos? Escreveu alguma história de amor?
Tantas perguntas de gente tão pequena...
Para escrever só há uma receita, que lhes foi dada (juntamente com a do arroz à Valenciana, da Galiza) : ler, ler, ler. Aos alunos lê o "Pinóquio", versão completa do Collodi, a "Quinta das cerejeiras" da Ilse Losa e o "Emílio e os detectives" de E. Kastner. História de amor só a dos animais do "Romeu e as rosas de gelo".
Recomendou "A abada de histórias", todas as pequenas histórias lidas há muitos anos na RTP, no programa do Vitinho, e "Se tu visses o que eu vi".
O escritor marcou TPC : escrita de uma história a partir da frase - O elefante é uma palavra muito pesada, e a invenção de um título para uma história que lhes contou do livro sem palavras.
Vivam as bibliotecas !

sexta-feira, 3 de março de 2006

a sombra do vento

Um utilizador solicitou a consulta da 2ª edição aumentada de uma obra que ele achava que existia na biblioteca. Consultei o catálogo bibliográfico e nunca essa edição esteve na nossa posse. O utilizador insistiu e pediu para ser atendido por outro funcionário, na esperança da sabedoria pessoal do funcionário fazer aparecer a obra.

Ainda bem que estou a ler “A Sombra do vento”, livro escondido, senão perdido, no Cemitério dos Livros Esquecidos.